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"Tarde [de Olavo Bilac] foi uma promessa de anos - UNICAMP 2024
"Tarde [de Olavo Bilac] foi uma promessa de anos seguidos. Tais são, tão salientes os artifícios e tão repetidos que muito bem provam o esforço do poeta decaído da poesia e a sua parca inspiração (...).”
(ANDRADE, M. Mestres do passado – Olavo Bilac. In: BRITO, M.S. História do modernismo brasileiro. Antecedentes da Semana de Arte Moderna. 5.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 288-289, 1978.)
As estrelas
Olavo Bilac
Desenrola-se a sombra no regao
Da morna tarde, no esmaiado anil;
Dorme, no ofego do calor febril,
A natureza, mole de cansao.
Vagarosas estrelas! passo a passo,
O aprisco desertando, s mil e s mil,
Vindes do ignoto seio do redil
Num compacto rebanho, e encheis o espao...
E, enquanto, lentas, sobre a paz terrena,
Vos tresmalhais tremulamente a flux,
– Uma divina msica serena
Desce rolando pela vossa luz:
Cuida-se ouvir, ovelhas de ouro: a avena
Do invisvel pastor que vos conduz...
(BILAC, Olavo. Tarde. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, p. 42-43, 1919.)
Esmaiado: esmaecido, pálido
Aprisco: curral
Redil: curral para o gado ovino ou caprino; rebanho de ovelhas
Tresmalhar: Afastar-se, perder-se do rebanho
Flux: fluxo
Avena: flauta pastoril
Relacione, ao poema, o trecho da crítica anterior, assinalando a alternativa que coincide com a ideia geral de Mário sobre a obra de Bilac.
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O crítico lamenta o espaçamento da criação poética de Bilac, o que se expressa no poema pela imagem das estrelas que se afastam umas das outras.
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O crítico elogia os salientes artifícios da linguagem poética de Tarde, o que se pode perceber, por exemplo, pela variedade de sinônimos para a palavra “curral”.
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O crítico evoca, como resultado da pouca inspiração artística do poeta, a sobrecarga de investimento formal (os hipérbatos ou inversões, por exemplo).
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O crítico associa a poesia de Bilac ao estilo decadentista, o que é reforçado pelas imagens de esgotamento, como se vê nas palavras “morna”, “esmaiado”, “ofego”, “mole”, “lentas”.
Solução
Alternativa Correta: C) O crítico evoca, como resultado da pouca inspiração artística do poeta, a sobrecarga de investimento formal (os hipérbatos ou inversões, por exemplo).
A alternativa C é a mais adequada porque a crítica de Mário de Andrade, que descreve a poesia de Olavo Bilac como "decaída" e "parca em inspiração", está diretamente relacionada ao uso excessivo de artifícios formais no poema "As Estrelas". Mário critica a repetição e o abuso de recursos poéticos artificiais, como os hipérbatos (inversões da ordem natural das palavras), que são comuns na poesia parnasiana, mas que, segundo ele, já estavam desgastados. No poema "As Estrelas", é possível observar o uso intenso dessas inversões, como em "Desenrola-se a sombra no regaço" ou "Num compacto rebanho, e encheis o espaço", o que reforça a visão de Mário sobre a decadência da poesia de Bilac.
Além disso, o poema apresenta uma idealização excessiva da natureza e uma construção bastante formalizada, características que Mário de Andrade também critica na obra de Bilac. A poesia de Bilac é marcada pela busca de perfeição técnica e pela utilização de recursos que, para Mário, são sinais de uma poesia que perdeu sua vitalidade criativa. O estilo parnasiano de Bilac, que foca na forma em detrimento da profundidade de conteúdo, é exatamente o alvo da crítica de Mário.
Portanto, a alternativa C destaca um aspecto central da crítica de Mário de Andrade sobre a obra de Bilac: o excesso de artifícios formais, como as inversões de palavras (hipérbatos), que em sua opinião, tornam a poesia de Bilac artificial e sem a força criativa que ela deveria ter. O poema "As Estrelas" é um exemplo perfeito dessa excessiva formalidade, que Mário considera como um sinal de decadência na poesia do autor.
Institução: UNICAMP
Ano da Prova: 2024
Assuntos: Textos Literários
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