Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

No primeiro parágrafo, afirma-se: “eu venho fazer enfim - UNIFESP 2016

Atualizado em 31/10/2024

Leia o texto para responder a questão.

Cumpridos dez anos de prisão por um crime que não pratiquei e do qual, entanto, nunca me defendi, morto para a vida e para os sonhos: nada podendo já esperar e coisa alguma desejando – eu venho fazer enfim a minha confissão: isto é, demonstrar a minha inocência.
Talvez não me acreditem. Decerto que não me acreditam. Mas pouco importa. O meu interesse hoje em gritar que não assassinei Ricardo de Loureiro é nulo. Não tenho família; não preciso que me reabilitem. Mesmo quem esteve dez anos preso, nunca se reabilita. A verdade simples é esta.
E àqueles que, lendo o que fica exposto, me perguntarem: “Mas por que não fez a sua confissão quando era tempo? Por que não demonstrou a sua inocência ao tribunal?”, a esses responderei: – A minha defesa era impossível. Ninguém me acreditaria. E fora inútil fazer-me passar por um embusteiro ou por um doido… Demais, devo confessar, após os acontecimentos em que me vira envolvido nessa época, ficara tão despedaçado que a prisão se me afigurava uma coisa sorridente. Era o esquecimento, a tranquilidade, o sono. Era um fim como qualquer outro – um termo para a minha vida devastada. Toda a minha ânsia foi pois de ver o processo terminado e começar cumprindo a minha sentença.
De resto, o meu processo foi rápido. Oh! o caso parecia bem claro… Eu nem negava nem confessava. Mas quem cala consente… E todas as simpatias estavam do meu lado.
O crime era, como devem ter dito os jornais do tempo, um “crime passional”. Cherchez la femme*. Depois, a vítima um poeta – um artista. A mulher romantizara-se desaparecendo. Eu era um herói, no fim de contas. E um herói com seus laivos de mistério, o que mais me aureolava. Por tudo isso, independentemente do belo discurso de defesa, o júri concedeu-me circunstâncias atenuantes. E a minha pena foi curta.
Ah! foi bem curta – sobretudo para mim… Esses dez anos esvoaram-se-me como dez meses. É que, em realidade, as horas não podem mais ter ação sobre aqueles que viveram um instante que focou toda a sua vida. Atingido o sofrimento máximo, nada já nos faz sofrer. Vibradas as sensações máximas, nada já nos fará oscilar. Simplesmente, este momento culminante raras são as criaturas que o vivem. As que o viveram ou são, como eu, os mortos-vivos, ou – apenas – os desencantados que, muita vez, acabam no suicídio.

* Cherchez la femme: Procurem a mulher.

(Mário de Sá-Carneiro. A confissão de Lúcio, 2011.)

No primeiro parágrafo, afirma-se: “eu venho fazer enfim a minha confissão”. Tal confissão se materializa textualmente em

  1. uma argumentação confusa, com oscilação dos tempos verbais entre presente, passado e futuro, relacionados a situações da vida do narrador.

  2. uma narrativa objetiva, com predomínio de verbos nos tempos passado e presente, relacionados a situações conhecidas do narrador.

  3. uma narrativa subjetiva, com predomínio de verbos no tempo passado, relacionados a situações das quais participara o narrador.

  4. uma argumentação racional, com predomínio de verbos no tempo presente, relacionados a situações analisadas pelo narrador.

  5. uma descrição pessoal, com predomínio de verbos no tempo presente, relacionados a situações que marcaram a existência do narrador.


Solução

Alternativa Correta: C) uma narrativa subjetiva, com predomínio de verbos no tempo passado, relacionados a situações das quais participara o narrador.

A alternativa C é a correta porque destaca a natureza subjetiva da confissão do narrador, que relata eventos passados de forma pessoal e reflexiva. No texto, o narrador se coloca em uma posição de vulnerabilidade ao compartilhar suas experiências e sentimentos, o que indica uma narrativa subjetiva. Ele fala sobre seu sofrimento e a prisão, usando expressões que revelam suas emoções e perspectivas, como “eu venho fazer enfim a minha confissão” e “não tenho família; não preciso que me reabilitem”. Esses elementos subjetivos enfatizam sua conexão íntima com os eventos narrados.

Além disso, a predominância de verbos no tempo passado ao longo do texto contribui para a construção dessa narrativa. O narrador se refere a situações passadas, como sua prisão e as circunstâncias do crime, permitindo ao leitor entender a sua perspectiva e a sua história. Ao afirmar que “a minha defesa era impossível” e que “o crime era, como devem ter dito os jornais do tempo, um ‘crime passional’”, ele se remete a momentos específicos da sua vida, evidenciando que a confissão é não apenas um relato de fatos, mas uma exploração emocional e introspectiva de sua experiência.

Por fim, a alternativa C sintetiza a essência do primeiro parágrafo, onde o narrador compartilha suas vivências e a complexidade de sua situação. As demais alternativas falham em capturar essa subjetividade e a predominância dos verbos no passado, como sugerido na resolução. Portanto, a opção C é a que melhor reflete a natureza da confissão apresentada no texto.

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2016

Assuntos: Interpretação Textual

Vídeo Sugerido: YouTube

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