Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

No fragmento do Auto da Lusitânia, o autor utiliza um - UNIFESP 2003

Atualizado em 30/08/2024

As questão baseia-se em fragmentos de três autores portugueses.

Auto da Lusitânia

(Gil Vicente – 1465?–1536?)

Estão em cena os personagens Todo o Mundo (um rico mercador) e Ninguém (um homem vestido como pobre). Além deles, participam da cena dois diabos, Berzebu e Dinato, que escutam os diálogos dos primeiros, comentando-os, e anotando-os.

Ninguém para Todo o Mundo: E agora que buscas lá? Todo o Mundo: Busco honra muito grande.
Ninguém: E eu virtude, que Deus mande
que tope co ela já.
Berzebu para Dinato: Outra adição nos acude:
Escreve aí, a fundo,
que busca honra Todo o Mundo,
e Ninguém busca virtude.
Ninguém para Todo o Mundo: Buscas outro mor bem
qu’esse?
Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse tudo quanto eu fizesse.
Ninguém: E eu quem me repreendesse em cada cousa que errasse.
Berzebu para Dinato: Escreve mais.
Dinato: Que tens sabido?
Berzebu: Que quer em extremo grado
Todo o Mundo ser louvado,
e Ninguém ser repreendido.
Ninguém para Todo o Mundo:Buscas mais, amigo meu?
Todo o Mundo: Busco a vida e quem ma dê.
Ninguém: A vida não sei que é,
a morte conheço eu.
Berzebu para Dinato: Escreve lá outra sorte.
Dinato: Que sorte?
Berzebu: Muito garrida:
Todo o Mundo busca a vida,
e Ninguém conhece a morte.

(Antologia do Teatro de Gil Vicente)

Os Maias

(Eça de Queirós – 1845–1900)

– E que somos nós? – exclamou Ega. – Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão...
Mas Carlos queria realmente saber se, no fundo, eram mais felizes esses que se dirigiam só pela razão, não se desviando nunca dela, torturando-se para se manter na sua linha inflexível, secos, hirtos, lógicos, sem emoção até o fim...
– Creio que não – disse o Ega. – Por fora, à vista, são desconsoladores. E por dentro, para eles mesmos, são talvez desconsolados. O que prova que neste lindo mundo ou tem de se ser insensato ou sem sabor...
– Resumo: não vale a pena viver...
– Depende inteiramente do estômago! – atalhou
Ega.
Riram ambos. Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança – nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranqüilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo... Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.
Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da inutilidade de todo o esforço. Não valia a pena dar um passo para alcançar coisa alguma na Terra – porque tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Eclesiastes, em desilusão e poeira.

(Eça de Queirós, Os Maias

Ode Triunfal

Álvaro de Campos
(heterônimo de Fernando Pessoa – 1888–1935)

À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza
tropical –
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força –
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes
elétricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinqüenta,
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do
Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes
êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só
carícia à alma.

(Fernando Pessoa, Obra Poética)

No fragmento do Auto da Lusitânia, o autor utiliza um recurso estilístico que consiste no emprego de vocábulos antônimos, estabelecendo contrastes, como vida/morte, louvado/repreendido, e outros. No fragmento de “Ode triunfal”, ocorre um outro recurso de estilo que consiste na invocação de seres reais ou imaginários, animados ou inanimados, vivos ou mortos, presentes ou ausentes, como ó rodas, ó grandes ruídos modernos e outros. Esses recursos estilísticos são conhecidos, respectivamente, como

  1. eufemismo e onomatopéia

  2. eufemismo e apóstrofe.

  3. antítese e apóstrofe.

  4. antítese e eufemismo.

  5. antítese e onomatopéia.


Solução

Alternativa Correta: C) antítese e apóstrofe.

A relação antitética entre “vida/morte”, “louvado/repreendido” é notória, como também as interpelações violentas, as apóstrofes com que o ‘eu‘ poemático invoca enfaticamente os aspectos da civilização material:
“ó rodas”, “ó grandes ruídos modernos”.

Resolução adaptada de: Curso Objetivo

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2000

Assuntos: Interpretação Textual

Vídeo Sugerido: YouTube

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