Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
Nesse fragmento do poema, a) o poeta se vale do recurso - UNIFESP 2011
Instrução: Leia o excerto para responder a questão.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d’amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm’lo de maldade,
Nem são livres p’ra morrer...
Prende-os a mesma corrente
– Férrea, lúgubre serpente –
Nas roscas da escravidão.
E assim roubados à morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoite... Irrisão!...
(Castro Alves. Fragmento de
O navio negreiro – tragédia no mar.)
Nesse fragmento do poema,
-
o poeta se vale do recurso ao paralelismo de construção apenas na primeira estrofe.
-
o eu-poemático aborda o problema da escravidão segundo um jogo de intensas oposições.
-
os animais evocados – leão, jaguar e serpente – têm, respectivamente, sentidos denotativo, denotativo e metafórico.
-
o tom geral assumido pelo poeta revela um misto de emoção, vigor e resignação diante da escravidão.
-
os versos são constituídos alternadamente por sete e oito sílabas poéticas.
Solução
Alternativa Correta: B) o eu-poemático aborda o problema da escravidão segundo um jogo de intensas oposições.
A alternativa B é correta porque o eu-poético, em seu lamento, utiliza um jogo de intensas oposições para abordar o problema da escravidão. O poema contrasta o "ontem" com o "hoje", o que evidência uma mudança drástica nas condições de vida dos negros, que antes eram livres e viviam de forma plena, como na "caça ao leão", mas, após a escravização, enfrentam um destino terrível, "o porão negro, fundo, infecto, apertado". As oposições entre liberdade e cativeiro, entre a natureza selvagem e a brutalidade da escravidão, estão presentes ao longo de todo o texto, criando um contraste dramático que é central à mensagem do poema.
Além disso, a construção paralelística se mantém ao longo de todo o poema, não se limitando à primeira estrofe, mas se estendendo para a segunda, como aponta a resolução. O paralelismo entre "ontem" e "hoje" reforça o impacto da transformação sofrida pelos negros, passando de uma condição de liberdade e dignidade para uma vida de sofrimento e opressão. Isso revela a indignação do poeta diante da injustiça da escravidão e denuncia a crueldade do sistema.
Outras alternativas, como a A, estão incorretas porque não compreendem a continuidade do paralelismo entre as estrofes. A alternativa C também está errada, pois o "leão" tem um sentido denotativo (referindo-se ao animal real), enquanto "jaguar" e "serpente" são usados de forma metafórica para intensificar o sofrimento e a opressão. A alternativa D também é incorreta, pois não há resignação no tom do poema, mas sim uma forte indignação e um apelo por justiça. Por fim, a alternativa E é incorreta porque todos os versos têm sete sílabas poéticas, não uma alternância entre sete e oito.
Institução: UNIFESP
Ano da Prova: 2011
Assuntos: Interpretação Textual
Vídeo Sugerido: YouTube