Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
“Foi quando meu vestido me reteve: alguma coisa se - FAMERP 2016
Leia o trecho do conto “As caridades odiosas”, de Clarice Lispector, para responder às questões de 65 a 68.
Foi uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilidade? Eu passava pela rua depressa, emaranhada nos meus pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu vestido me reteve: alguma coisa se enganchara na minha saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e escura. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue interno davam um tom quente de pele. O menino estava de pé no degrau da grande confeitaria. Seus olhos, mais do que suas palavras meio engolidas, informavam-me de sua paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto. Um pouco aturdida eu o olhava, ainda em dúvida se fora a mão da criança o que me ceifara os pensamentos.
– Um doce, moça, compre um doce para mim.
Acordei finalmente. O que estivera eu pensando antes de encontrar o menino? O fato é que o pedido deste pareceu cumular uma lacuna, dar uma resposta que podia servir para qualquer pergunta, assim como uma grande chuva pode matar a sede de quem queria uns goles de água.
Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente algum conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse com uma dureza que só Deus sabe explicar: um doce para o menino.
(A descoberta do mundo, 1999.)
“Foi quando meu vestido me reteve: alguma coisa se enganchara na minha saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e escura. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue interno davam um tom quente de pele.” (1.° parágrafo)
A passagem narra o momento inicial do encontro da narradora com seu interlocutor. Tal momento é caracterizado
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pela aparição e humanização gradativa do menino, referido sucessivamente como “coisa”, “mão” e “menino”.
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pela reação violenta da mulher ao ser incomodada em seus pensamentos.
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pela revelação de uma grande verdade como consequência de um fato trivial.
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por um desgosto da mulher em relação à sujeira do menino que a abordara.
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por uma reflexão da mulher, uma crítica social em relação às condições dos menos favorecidos.
Solução
Alternativa Correta: A) pela aparição e humanização gradativa do menino, referido sucessivamente como “coisa”, “mão” e “menino”.
A narradora, ensimesmada e desatenta, percebe aos poucos a presença da criança: primeiro é uma coisa que lhe puxa o vestido, depois é uma mão “pequena e escura”, para depois se revelar no menino que pede um doce.
Resolução adaptada de: Curso Objetivo
Institução: FAMERP
Ano da Prova: 2016
Assuntos: Literatura
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