Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

Está empregado em sentido figurado o termo sublinhado - UNIFESP 2020

Atualizado em 28/09/2024

Para responder a questão, leia o trecho do livro O homem cordial, de Sérgio Buarque de Holanda.

Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade — daremos ao mundo o “homem cordial”. A lhaneza1 no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar “boas maneiras”, civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. Na civilidade há qualquer coisa de coercitivo — ela pode exprimir-se em mandamentos e em sentenças. Entre os japoneses, onde, como se sabe, a polidez envolve os aspectos mais ordinários do convívio social, chega a ponto de confundir-se, por vezes, com a reverência religiosa. Já houve quem notasse este fato significativo, de que as formas exteriores de veneração à divindade, no cerimonial xintoísta, não diferem essencialmente das maneiras sociais de demonstrar respeito.
Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualista da vida do que o brasileiro. Nossa forma ordinária de convívio social é, no fundo, justamente o contrário da polidez. Ela pode iludir na aparência — e isso se explica pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que são espontâneas no “homem cordial”: é a forma natural e viva que se converteu em fórmula. Além disso a polidez é, de algum modo, organização de defesa ante a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência. Equivale a um disfarce que permitirá a cada qual preservar intatas sua sensibilidade e suas emoções.
Por meio de semelhante padronização das formas exteriores da cordialidade, que não precisam ser legítimas para se manifestarem, revela-se um decisivo triunfo do espírito sobre a vida. Armado dessa máscara, o indivíduo consegue manter sua supremacia ante o social. E, efetivamente, a polidez implica uma presença contínua e soberana do indivíduo.
No “homem cordial”, a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro — como bom americano — tende a ser a que mais importa. Ela é antes um viver nos outros.

(O homem cordial, 2012.)

1 lhaneza: afabilidade.

Está empregado em sentido figurado o termo sublinhado em:

  1. “Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência.” (2.° parágrafo)

  2. “Entre os japoneses, onde, como se sabe, a polidez envolve os aspectos mais ordinários do convívio social” (1.° parágrafo)

  3. “São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante.” (1.° parágrafo)

  4. “Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualista da vida do que o brasileiro.” (2.° parágrafo)

  5. “Na civilidade há qualquer coisa de coercitivo — ela pode exprimir-se em mandamentos e em sentenças.” (1.° parágrafo)


Solução

Alternativa Correta: A) “Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência.” (2.° parágrafo)

A resposta correta é a alternativa A, pois o termo "epidérmica" é usado de forma figurada para indicar superficialidade e a natureza das interações sociais do "homem cordial". No contexto, "detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo" sugere que a polidez e a cordialidade podem ser apenas camadas superficiais, não refletindo necessariamente um envolvimento emocional profundo.

Além disso, o autor argumenta que a cordialidade brasileira é uma manifestação que se converteu em fórmula, muitas vezes sem autenticidade, o que reforça a ideia de que essas interações são apenas "epidérmicas". Essa interpretação ressoa com a crítica à forma como a polidez é usada como um disfarce, destacando a distância entre as aparências e a verdadeira essência do ser.

Por fim, enquanto os outros termos mencionados nas outras opções têm significados mais diretos ou literais, "epidérmica" no trecho mencionado traz uma conotação que sugere uma crítica ao superficialismo nas relações sociais, alinhando-se assim perfeitamente com o argumento do autor sobre a superficialidade da cordialidade.

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2020

Assuntos: Interpretação Textual

Vídeo Sugerido: YouTube

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