Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

De acordo com o texto, a) o mal-estar que acomete a - UNIFESP 2021

Atualizado em 28/09/2024

Para responder a questão, leia o trecho do livro O oráculo da noite, do neurocientista Sidarta Ribeiro.

A palavra sonho, do latim somnium, significa muitas coisas diferentes, todas vivenciadas durante a vigília, e não durante o sono. Realizei “o sonho da minha vida”, “meu sonho de consumo” são frases usadas cotidianamente pelas pessoas para dizer que pretendem ou conseguiram alcançar algo. Todo mundo tem um sonho, no sentido de plano futuro. Todo mundo deseja algo que não tem. Por que será que o sonho, fenômeno normalmente noturno que tanto pode evocar o prazer quanto o medo, é justamente a palavra usada para designar tudo aquilo que se quer ter?
O repertório publicitário contemporâneo não tem dúvidas de que o sonho é a força motriz de nossos comportamentos. Desejo é o sinônimo mais preciso da palavra “sonho”. [...] Na área de desembarque de um aeroporto nos Estados Unidos, uma foto enorme de um casal belo e sorridente, velejando num mar caribenho em dia ensolarado, sob a frase enigmática: “Aonde seus sonhos o levarão?”, embaixo o logotipo da empresa de cartão de crédito. Deduz-se do anúncio que os sonhos são como veleiros, capazes de levar-nos a lugares idílicos, perfeitos, altamente… desejáveis. As equações “sonho é igual a desejo que é igual a dinheiro” têm como variável oculta a liberdade de ir, ser e principalmente ter, liberdade que até os mais miseráveis podem experimentar no mundo de regras frouxas do sonho noturno, mas que no sonho diurno é privilégio apenas dos detentores de um mágico cartão plástico.
A rotina do trabalho diário e a falta de tempo para dormir e sonhar, que acometem a maioria dos trabalhadores, são cruciais para o mal-estar da civilização contemporânea. É gritante o contraste entre a relevância motivacional do sonho e sua banalização no mundo industrial globalizado. [...] A indústria da saúde do sono, um setor que cresce aceleradamente, tem valor estimado entre 30 bilhões e 40 bilhões de dólares. Mesmo assim a insônia impera. Se o tempo é sempre escasso, se despertamos diariamente com o toque insistente do despertador, ainda sonolentos e já atrasados para cumprir compromissos que se renovam ao infinito, se tão poucos se lembram que sonham pela simples falta de oportunidade de contemplar a vida interior, quando a insônia grassa e o bocejo se impõe, chega-se a duvidar da sobrevivência do sonho.
E, no entanto, sonha-se. Sonha-se muito e a granel, sonha-se sofregamente apesar das luzes e dos ruídos da cidade, da incessante faina da vida e da tristeza das perspectivas. Dirá a formiga cética que quem sonha assim tão livre é o artista, cigarra de fábula que vive de brisa. [...] Na peça teatral A vida é sonho, o espanhol Pedro Calderón de la Barca dramatizou a liberdade de construir o próprio destino. O sonho é a imaginação sem freio nem controle, solta para temer, criar, perder e achar.

(O oráculo da noite: a história e a ciência do sonho, 2019.)

De acordo com o texto,

  1. o mal-estar que acomete a civilização contemporânea está intimamente ligado à extinção do sonho no mundo industrial.

  2. o entendimento da dinâmica do mundo industrial atual implica a compreensão de que a natureza dos sonhos também se transforma historicamente.

  3. a banalização do sonho mostra-se intimamente relacionada à dinâmica acelerada do mundo industrial contemporâneo.

  4. o ritmo acelerado do mundo industrial contemporâneo impossibilita a contemplação da vida interior pela via do sonho.

  5. a interrupção da dinâmica perversa do mundo globalizado implica o reconhecimento de que os sonhos acabaram por se tornar irrelevantes.


Solução

Alternativa Correta: C) a banalização do sonho mostra-se intimamente relacionada à dinâmica acelerada do mundo industrial contemporâneo.

A alternativa C é a mais adequada porque o texto destaca a relação entre a banalização do sonho e a dinâmica acelerada do mundo industrial contemporâneo. O autor menciona que, apesar de o sonho ser uma força motivacional poderosa, ele acaba sendo subestimado e desvalorizado na sociedade atual, onde a rotina de trabalho e a falta de tempo para descansar comprometem a capacidade das pessoas de sonhar de forma significativa.

Além disso, o autor critica como os sonhos, que deveriam ser experiências ricas e libertadoras, são reduzidos a meras promessas publicitárias, ligadas ao consumo e ao dinheiro. A referência a anúncios que vinculam sonhos a viagens idílicas e a liberdade sugere que a sociedade contemporânea transformou o sonho em um produto, tornando-o superficial e acessível apenas a alguns, ou seja, aqueles que podem pagar.

Por fim, o texto aponta que, em meio a essa banalização, os sonhos ainda persistem, mas de forma quase clandestina, revelando um contraste entre a liberdade e a criatividade que os sonhos representam e a pressão da vida cotidiana. Essa contradição ressalta como a dinâmica industrial não só minimiza o valor dos sonhos, mas também limita a capacidade das pessoas de se conectarem com suas próprias aspirações e imaginações.

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2021

Assuntos: Interpretação Textual

Vídeo Sugerido: YouTube

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