Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

Condizente com o teor do sermão está o conteúdo do - UNIFESP 2016

Atualizado em 30/10/2024

Leia o excerto do “Sermão de Santo Antônio aos peixes” de Antônio Vieira (1608-1697) para responder a questão.

A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos.
[...] Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros, muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas: vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se hão de comer.
[...]
Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão declaradamente a sua plebe: Plebem meam, porque a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os que menos podem, e os que menos avultam na república, estes são os comidos. E não só diz que os comem de qualquer modo, senão que os engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam. E de que modo se devoram e comem? Ut cibum panis: não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres é que, para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto é o que padecem os pequenos.
São o pão cotidiano dos grandes: e assim como pão se come com tudo, assim com tudo, e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem: Qui devorant plebem meam, ut cibum panis. Parece-vos bem isto, peixes?

(Antônio Vieira. Essencial, 2011.)

Condizente com o teor do sermão está o conteúdo do seguinte provérbio:

  1. “A tolerância é a virtude do fraco.”

  2. “O homem é o lobo do homem.”

  3. “Ao homem ousado, a fortuna lhe dá a mão.”

  4. “A fome é a companheira do homem ocioso.”

  5. “Quem tem ofício, não morre de fome.”


Solução

Alternativa Correta: B) “O homem é o lobo do homem.”

A alternativa B), "O homem é o lobo do homem," é a resposta correta, pois reflete a crítica central do sermão de Antônio Vieira sobre a natureza predatória das relações humanas, especialmente entre os poderosos e os fracos. Vieira utiliza a metáfora dos peixes que se devoram uns aos outros para ilustrar como os grandes (aqueles em posições de poder) consomem os pequenos (os vulneráveis). Ao afirmar que os "grandes comem os pequenos" e que "devoram e engolem os povos inteiros," Vieira ressalta a brutalidade e a falta de compaixão nas interações sociais, semelhante à ideia de que os homens se tornam predadores uns dos outros.

O sermão também destaca a desigualdade e a exploração que existem na sociedade, com os mais fracos sendo tratados como "pão cotidiano" dos poderosos, ou seja, constantemente utilizados e consumidos. Essa relação é caracterizada por uma imoralidade que Vieira denuncia, sugerindo que, assim como os lobos são predadores naturais entre si, os homens, em suas ações egoístas, agem da mesma forma. A expressão "o homem é o lobo do homem" encapsula essa ideia de que, em um sistema social injusto, as pessoas podem se tornar predadoras de suas próprias espécies, explorando e consumindo umas às outras.

As outras alternativas não capturam adequadamente a essência do sermão. Por exemplo, a alternativa A), sobre a tolerância do fraco, sugere uma resignação que não está presente na crítica de Vieira; ele se posiciona contra a injustiça e a exploração, não promovendo a tolerância como virtude. As alternativas C), D) e E), por sua vez, abordam outros aspectos da condição humana, como a ambição, a ociosidade e a utilidade do trabalho, mas não refletem a mensagem de predatismo e exploração que é central na obra de Vieira.

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2016

Assuntos: Interpretação Textual

Vídeo Sugerido: YouTube

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